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  • Foto do escritorThe Brain Inside The Ball

Entrevista exclusiva com o Mister Fernando Valente (U21 FC Shakhtar)



Qual a sua grande influência enquanto treinador? Algum jogar de equipa/treinador específico? - Há sempre alguém ou algum acontecimento que nos inspira num determinado momento , para que as decisões surjam e muitas vezes mudarem a nossa vida...Fernando Pereira, antigo central do Salgueiros e meu Treinador no Marco de Canaveses , inspirou-me para ser Treinador, quando tinha 23 anos, pela maneira simples e esclarecida com que nos fazia perceber os princípios básicos do jogo. - Carlos Queiroz , há 30 anos editou uma cassete “ Aprender a jogar “, que falava da Simplificação da estrutura complexa do jogo, que me ajudou a perceber a lógica do jogo : o jogo decide-se a maior parte das vezes no local onde está a bola em ações de 1x1, 2x1,3x1, 3x2, 3x3... - 15 anos jogando futebol profissional e 15 anos jogando Futsal...deram-me uma visão pormenorizada da importância dos jogos reduzidos, a minha metodologia desde o inicio da minha carreira foi influenciada pelo Futsal ( Gr+4x4+Gr ), porque acredito que quem quiser dominar um jogo de qualidade tem que dominar os princípios básicos do jogo. - Para quem gosta verdadeiramente dum jogo de qualidade tem que agradecer ter vivido numa época, em que Cruyff e depois Guardiola, terem construído um jogar que é uma verdadeira inspiração.


Em algum momento no início da sua carreira teve oportunidade de trabalhar num "laboratório de experiências"? Qual a importância dessa vertente prática de experimentação? O meu laboratório de experiências foi a minha prática desportiva como jogador, costumo dizer que não peço nada aos meus jogadores que eu não gostasse para mim, não gosto de correr à volta do campo…não gosto de aquecimentos tipo ginástica…não gosto de bola pelo ar…não gosto de cruzamentos pelo ar…não gosto de diagonais do meio para fora… O que me orienta na abordagem às ações que gosto no jogo tem a ver com a perspetiva da Probabilidade e da Possibilidade, quer dizer que o meu G. Redes pode marcar golo na baliza adversária é possível, mas é pouco provável que aconteça muitas vezes…por isso não vou investir em determinadas ações de jogo que me dão uma probabilidade muito baixa de garantir a posse da bola e se estivermos atentos ao Jogo em Portugal, ele está cheio de ações de jogo em que a maior parte das vezes se perde a bola, quer dizer que o jogo está sempre partido e caracteriza-se pela luta desenfreada , em duelos físicos, pela posse de bola, para logo a seguir se voltar a perder, decididamente não é a minha visão do Jogo.


O que pensa sobre o treino? Nível de importância e qual necessidade? O treino é a base de tudo, porque é a ferramenta mais importante para a consolidação das ideias e a consequente operacionalização das mesmas. Ao mesmo tempo tratando-se o Futebol de um jogo de equipa só é possível alinhar todos os jogadores em volta duma determinada ideia se o treino estiver presente, mas orientado sempre para a evolução e melhoramento da nossa forma de jogar.


Ver a sua proposta de jogo enraizada na equipa e perceber que em treino encontrou soluções perfeitas para que a equipa resolva qualquer problema com sucesso, é a maior vitória? Sem dúvida , isso é o que todos procuram…mas o que me faz feliz é o lado estético do jogo, é a construção de um Jogar que demonstra uma intenção clara dos jogadores se envolverem de uma determinada maneira e que isso se transforma em golo ou numa oportunidade clara de golo…isso sim é arte , é futebol espetáculo que cria emoções únicas nos jogadores e principalmente em quem assiste…o espectadores.


Uma das grandes alegrias do treinador deveria ser a felicidade dos seus jogadores em jogarem um determinado tipo de jogo? Esse é o meu primeiro objetivo, conceber contextos e conceitos em que eles sintam prazer no que estão a fazer…se eles não tiverem isso não conseguem transmitir aos outros essas sensações. O que tem caracterizado o meu percurso, testemunhado por todos os jogadores que trabalharam comigo é que eles estão ali para “ jogarem “ se fosse para só “ correrem “ chamavam-se corredores…todos sabemos que o prazer e a felicidade vem da maneira como consegues manter a posse de bola e o que consegues fazer com ela que valorize a tua prestação no jogo, não chega estar lá e fazer as coisas bem, tens que fazer melhor que os outros e acrescentar diferença ao jogo, driblando, assistindo ou marcando golos.


Cruzamento ou passe? Remate ou passe à baliza? Decididamente passe ao colega que está dentro da área e se possível pelo chão , em vez de cruzamento pelo ar onde não sabemos aonde a bola vai cair... Em zona de finalização se conseguir passar à baliza tens mais probabilidades de marcar golo, mas não podemos excluir nunca o remate porque também faz parte das ações técnicas do jogo e quando bem executado torna-se um recurso de grande beleza e eficácia.


Na operacionalização do treino quais aspetos mais importantes para a aquisição? Exercício em si mesmo e a forma como está construído, o feedback aos jogadores? O futebol é um jogo complexo , por isso para que as ações sejam de qualidade dependem dum numero ilimitado de situações que num determinado momento do exercício e do jogo têm que acontecer ao mesmo tempo, isso quer dizer que o exercício, o feedback, o jogador que o executa, o contexto e o próprio treinador fazem parte desse momento do jogo ou do treino para que a aquisição aconteça...se não acontecer temos sempre a oportunidade de analisar , reformular e tentar outra vez as vezes que forem precisas.


Ganhar por 1-0 ou por 5-4? Sem dúvidas 5-4 , jogo com golos é grande espetáculo e eu como Treinador tenho a obrigação de promover o Jogo e os Jogadores, quem não pensar assim ou achar que o mais importante é o resultado, vai andar nesta modalidade a cumprir calendário até ser despedido, porque 95% dos Treinadores mais tarde ou mais cedo são despedidos, por isso costumo dizer que o mais importante é perceberes como queres perder ? a dar pontapés para a frente e fazer do jogo uma guerra ou procurar ganhar duma maneira construtiva e procurando criar formas inovadoras e que te levem a ganhar mais vezes...se for ao contrário perdes 2 vezes, pelo resultado e pelo fraco jogo que promoves.


O maior risco no futebol é não arriscar? Quando falamos em risco quer dizer que no jogo deve haver alguma coisa perigosa...? talvez se alguém der um mortal de costas, ou se esbarrar contra um poste... entendo a pergunta, mas risco é não querer jogar, como muitos fazem, é estar sempre dependente do controlo do adversário, de destruir o jogo do adversário, de fazer dos seus jogadores combatentes numa batalha e aí tem que ganhar ou perder, porque tem que haver um vencedor... Não tenho essa visão do Futebol e do Jogo, não tenho que lutar por nada...tenho que com competência e duma maneira organizada procurar dispor da bola para marcar golos e não deixar o adversário marcar na minha baliza, esta é também a visão de Paco Seirul-lo, que me ajudou pela sua influência a olhar para o Jogo de maneira diferente e por um prisma que diz mais com aquilo que sempre senti ao longo da minha carreira.


Tentar ser sempre dominador? Mesmo contra adversários com a mesma tendência, tentar dominar? Tentar sempre ter a bola o mais tempo possível, porque para mim jogar bem é não perder a bola e marcar golo , também costumo dizer que defender é uma consequência de perder a bola...por isso entender o jogo, perceber o que é preciso fazer e que relações e ações temos que promover no local da bola, para não perder a bola e tentar marcar golo. Se o adversário nos tirar a bola e for mais competente do que nós, temos que perceber como temos que nos organizar para recuperar a bola novamente e impedir ao mesmo tempo que a bola entre na nossa baliza...tão simples como isto.


Qual o melhor momento que viveu no futebol? Os momentos foram muitos, porque quando olhas para trás e sentes que deixaste marca em quem viveu e partilhou contigo momentos de felicidade e outros menos felizes , percebes que tem valido a pena estar neste mundo...o titulo de campeão no meu União de Paredes, deixou uma marca profunda no meu coração, porque foi acompanhado por muitos desafios que culminaram na construção duma Cidade Desportiva que teve muito de mim na maneira como foi concebida e que ainda hoje me orgulha porque ficaram bases para que o Clube crescesse e que possa agora lutar por outros objetivos.

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